quinta-feira, 26 de julho de 2012

Crônicas de Volta - Capítulo II


O Sacrifício da Donzela Virgem      

     Era uma figura macabra, envolta a uma capa escura repleta de retalhos. Um capuz emergia nas sombras a face velha e enrugada. Havia um forte odor de enxofre expelido pelo ser. Era alto e caminhava altivo, como um legítimo cavaleiro. Na escuridão de seu imenso castelo, sussurrava algo numa língua esquecida por todos. Apenas os mais antigos seres de Volta a conheciam. Havia, no centro do salão, um cajado fixado no chão pedregoso. A luz tênue de sua gema incandescente, iluminava consideravelmente o ambiente sinistro. As paredes eram preenchidas por estranhas pinturas. Ilustrações desgastadas que retratavam as guerras do passado distante do mundo. E, uma delas, chamava bastante atenção. Na pintura, estavam Vann, guardião da água,  Is, guardião do gelo, Ark, guardião da terra e Brann, guardião do fogo. Brann era o antigo nome de Tilslore, antes deste cair em desgraça. O Mago das Trevas, fora um dia um ser iluminado, que caminhava ao lado dos homens e os aconselhava. Era o mais poderoso dos Reis Magos... seu poder fora concebido pelo próprio deus dragão Branngud que, no entanto, fora enganado pelas mentiras do mago e teve um de seus ovos roubado para a construção de um novo cajado, tão poderoso quanto os três cajados unidos de seus companheiros. Então, num tremendo ato de ambição e cobiça, Brann, traiu os Reis Magos de Volta, numa tentativa de assassinato, do qual com muito esforço fora impedida. Todavia, o agora Tilslore, exilou-se na tentativa de escapar do castigo severo que receberia. O novo inimigo, portanto, não aquietou-se e uniu as forças do mal que, enfim, acabaram com o reinado de luz. Com os três Reis Magos fora de seu caminho, nada impediria Tilslore de dominar Volta. Eis a guerra, até então...

     Sobre um altar de rochas negras, uma jovem mulher deitada. Era divinamente bela. Os cabelos longos eram dourados, assim como era o sol da tarde pouco antes de se por. A pele, como seda, era branca e as maçãs do rosto coradas de tom semelhante ao dos lábios cheios. Ela estava nua. Os seios não eram muito fartos, mesmo assim, em nada deixavam a desejar com toda sua formosura e perfeição. Cada milímetro de seu corpo era dotado de caprichos. faria qualquer homem cair aos seus pés e implorar por sua mão em casamento, sem nem sequer pestanejar. A moça se via irrequieta sobre a mesa de pedra. Dormia, no entanto, gemia e se mexia, como se estivesse mergulhada em um terrível pesadelo. Murmurava palavras incompreensíveis. Estava dopada por magia.
     Tilslore aproximou-se da garota. Em uma das mãos, empunhava firme uma adaga de lâmina negra. Encostou a ponta do metal frio no pescoço da adormecida. Fora, então, deslisando a arma afiada, passando por entre os seios e, então, o umbigo, até chegar nos pelos aveludados de sua vulva. A moça continuara a dormir. O mago proferia palavras sinistras com sua voz rasgada. Era um feitiço poderoso do qual faria seus poderes duplicarem. Tilslore pousou uma das mãos sobre o ventre da jovem. Disse algo em idioma desconhecido. Algo que a fez abrir as pernas. Tilslore, portanto, introduzira vagarosamente a adaga na genitália da pobre moça. Devido sua virgindade, não demorou em nada para o sangue jorrar. O mago suspendeu a mão que repousava sobre o ventre da moça, ao mesmo tempo de sua voz aumentava e novas palavras saíam de sua boca amaldiçoada. Finalmente, espíritos malignos apareceram no grande salão escuro. Eram como sombras aladas, há muito perturbadas. Voavam em círculos em volta do cajado.
     A jovem adormecida respirava ofegante, como se a lâmina em sua vagina a desse prazer ao invés de dor. O mago já havia introduzido até a metade, e o sangue continuou a jorrar. Escorria por meio de canaletas que iam do altar, até o cajado fincado no meio do salão. A aquela altura, um tremendo vendaval tomava conta do local e havia um coro de vozes desesperadas que pareciam suplicar por misericórdia. Tilslore ritualizava para tornar-se o ser das trevas mais poderoso de Volta. Sua ambição era superar até mesmo os poderes de Skygge; ansiava pelos poderes divinos reservados somente aos deuses celestiais. O Mago das Trevas não se contentaria somente com o domínio de Volta, oh, não! Sua confiança era tamanha que cultivou dentro de si, o desejo de alcançar os céus... até mesmo o palácio do Pai Celestial, O Todo-Poderoso.
     Tilslore cantava suas palavras com extremo ódio. A jovem parecia chorar, porém, desta vez, de verdadeira dor. A mesma abriu, de repente, os olhos azuis. As pupilas se contraíram subitamente, como se realmente tivesse despertada de um aterrador pesadelo. A moça chorava como criança. O vendaval cessou e os espíritos se aquietaram. Ouvia-se, no grande salão escuro, somente o choro e os soluços desesperados da jovem garota. Custou a ela perceber que tudo aquilo era real. Respirou o ar gélido daquele lugar horrível, sentiu a superfície áspera da mesa de rocha onde estava deitada e testou os movimentos das mãos e dos pés mexendo os dedos. Por um instante, o choro cessou. Havia somente alguns soluçares. A visão, outrora turva, apurou-se no escuro. Inclinou sutilmente a cabeça para sua direita. Notou a estranha figura de um homem alto do seu lado. Havia um forte odor de enxofre saído de sua túnica negra. A face do mago estava descoberta. Pele pálida e enrugada, uma feição fria como a morte. Sobrancelhas fartas projetavam-se sobre os olhos negros. 
    
     - M... me a... jude... - murmurou a garota pegando em seu braço frio.
     
     Tilslore esboçou um sorriso diabólico. O mago apontou com os olhos para a região genital da jovem, que, se esforçou para olhar. Percebeu a nudez e o sangue. Tilslore movimentou a adaga com tamanha sutileza, mas a ponto de a mulher perceber que aquilo estava dentro de seu corpo. Ela, novamente entrou em desespero. Tilslore voltou ao seu estado de fúria e, antes que a garota esgoelasse, tampou sua delicada boca com a mão que estava livre, de forma a empurrar a cabeça da jovem contra a rocha num forte baque. Ela começou a debater-se em absoluto desespero. Relutava para sair daquela grotesca situação. O cruel mago pressionava com mais força a cabeça da garota contra a rocha, agravando mais ainda a lesão na parte posterior do crânio
     O Mago das Trevas aproximou o rosto com o da jovem. Lambeu o sangue que vazava de sua cabeça e sussurrou algo em seu ouvido. Ela aquietou-se, como se novamente, em estado de transe. Tilslore livrou sua boca e a beijou. Um ar escuro e sinistro entrou na doce boca da jovem. A adaga fora introduzida por inteira na vagina, até atingir o útero e emergir para fora do ventre, formando um chafariz de sangue. Os olhos da desconhecida jovem perderam o brilho. As pupilas dilataram-se e ela dera seu ultimo suspiro.
     Tilslore lambeu o sangue da adaga negra. Aguardou todo o fluído se evadir do belo corpo deitado sobre o altar de pedra. Cobriu novamente a face com o capuz e dirigiu-se ao cajado. Ao segura-lo, sentiu o novo poder... a magia era poderosa. Mesmo assim, insuficiente. Tilslore buscaria mais. Porém, era sábio suficiente para ter em mente que tudo aconteceria no seu devido tempo e com enorme cautela.

*****

     Holger amanhecera com uma estranha sensação em seu décimo oitavo dia de jornada. Embora se sentia sortudo em não deparar-se com nenhum perigo eminente, uma angústia sinistra o perturbava naquela manhã. Aprontou suas coisas sem dar muita importância para aquilo. O rapaz estava faminto, portanto, apanharia algo no caminho. Holger não queria gastar seu tempo caçando nenhum animal, desta forma, pensava ser mais econômico colher frutos de pomares que encontrar no acaso. Apesar de não estar seguindo por nenhuma estrada, sabia que estava próximo a Gronngard, terra de grandes produtores agrícolas, portanto, a qualquer momento encontraria alguma fazenda onde poderia saciar-se num farto banquete.

     Era meio-dia, quando o jovem escudeiro ouvira passos em sua retaguarda. A floresta era silenciosa e as copas das árvores quase cobriam a luz do sol. Holger estava desprovido de qualquer arma, limitando-se somente a uma pequena faca que, nem sequer estava amolada. Mas era o que tinha para o momento. Continuou a caminhar, apesar de desacelerar sutilmente. A faca estava empunho. Os ouvidos bem apurados. Virou-se!

     - Aaaahh!!! - Holger gritou em fúria com a faca suspensa, mas parou de repente, pois fora surpreendido com um ser inusitado.
     - Por favor, não me faça mal! - quem suplicou fora uma jovem fada de asas quebradas e com metade do tamanho do garoto.
     
     Holger a observou como se a contemplasse. Mesmo maltratada e ferida, sua beleza ainda era digna de apreciação. Era somente uma criança perdida. Holger jamais havia ficado diante de um ser tão belo e tão raro como aquele. Ambos entreolhavam-se sem falar nada. Holger somente a observou. A criatura tinha cabelos verdes como a grama, olhos de mesma cor e dois pares de asas como de libélulas, porém, quebradas. A pequena fada disse-lhe que já seguia Holger havia três dias. Estava perdida, pois contou que seu reino, oculto na floresta, havia sofrido um ataque de orcs. A fada revelou a Holger seu nome: Kaira. O jovem, comovido por suas condições e "enfeitiçado" com sua beleza, a aceitou como companhia, ainda mais por conta de suas habilidades místicas e seus conhecimentos em relação aos segredos da floresta, pois, Kaira, pertencia a uma raça ligada fortemente a magia de Ark, o Rei Mago guardião da terra. Além de tudo, Kaira conhecia a floresta misteriosa do sul, onde morava a lendária feiticeira. A pequena fada sabia até como a chamavam nas antigas canções.... era Radias, a guardiã do raio!

Kaira pertence a raça das Fadas da Floresta. É ainda uma criança entrando na fase da puberdade. Seu reino fora devastado por um exército de orcs. A pequena fada fugira antes de tudo terminar. Não se sabe ao certo se seus pais sobreviveram ou se foram levados como prisioneiros para Svart Jord com a intenção de serem convertidos as legiões do escuro. As Fadas da Floresta são conhecidas por suas habilidades para com a natureza. Acredita-se que o próprio mago Ark as criara nos primeiros anos de Volta. Também não se sabe ao certo a idade dessas criaturas, pois os relatos em relação a elas, são escassos. É provável que Holger seja a primeira criatura fora da floresta a manter contato com uma fada, desde a guerra que culminou na queda dos Reis Magos.



Continua...
     
     








Um comentário: